quinta-feira, 5 de maio de 2011

O SOL QUE NASCE EM CADA MANHÃ


Se você soubesse que hoje é o seu último dia na Terra, o que terias a dizer a seu respeito? Que considerações faria sobre o tempo passado? Estaria satisfeito com suas atitudes ou arrependido das ações?

Nada que eu possa concluir talvez seja relevante para os outros, somente a mim, eu creio. Através das palavras que vão se juntando em frases, orações, consigo retirar de dentro de mim estes pensamentos que rogam por liberdade. O que quero dizer na verdade é que pra cada palavra que eu proferisse em minha própria defesa ou condenação, não teria nelas qualquer tipo de rancor ou pena. Sou afeito a aceitar cada decisão tomada, pois daquilo que se faz, se extrai todo o conhecimento e evolução que temos. A junção das perdas e ganhos resulta neste complexo emaranhado de carne, vísceras, sangue, que são comandados por este cérebro confuso e belo. Nele guardamos nossos segredos, quem somos e o que sentimos. Dele somos reféns. Ali está guardada nossa alma. Ela, a mais simples das coisas, que é no fim, tudo o que temos e somos.

Ao deitar a cabeça na cama, rezo em uma língua própria, falando com meus deuses. Eles que coabitam este corpo. Entre pedidos e questionamentos relembro um pouco da trajetória que me levou ao ponto onde estou. Com pouco mais de um quarto de século e a pretensão de uma vida longa pela frente, mas já com certo tempo despendido. Recordo de algumas pessoas que me marcaram de formas diversas e de muitas delas sinto saudade. Algumas tão presentes mesmo com a distância, outras ausentes apesar da aproximação. Viajo no espaço/tempo, confundindo-os. Faço da prece meu agradecimento por cada sentimento gerado por estas pessoas, pois isso as transformou em uma parte de mim. Agora sou também a união de cada um que algo em mim gerou.

Ao acordar, o sol que vem pela parte da janela que deixo aberta vem me acompanhar. Ele que mesmo coberto por nuvens nunca me abandonou. O astro do leão que sou. Iluminando as ideias que parecem turvas. Os olhos que já foram embaçados, hoje enxergam melhor. Não pela operação que fiz, mas porque o aprendizado me fez ver o mundo com mais clareza e compreensão. Tento aceitá-lo sem julgamentos tolos.

Parei pra pensar que não experimentei coisas simples para a maioria das pessoas. Não tive a oportunidade de dizer tantas outras. Ainda me falta dar nomes aos sentimentos que tenho. Serão eles inomináveis?

E no discurso que eu faria no derradeiro eu diria:

“Eu fui, eu sou e eu serei. O que deixo de herança para o mundo são as histórias e o amor. Fui um amante da vida e nada mais”.

Mas ao contrário dos que possam pensar que estou louco ou depressivo, se enganam, pois nada mais estou fazendo do que celebrar diariamente a vida. Pratico o renascimento diário, sendo batizado pela luz do sol de cada manhã.

Postagens mais recentes Postagens mais antigas Página inicial

Copyright © Boletim Afrocarioca | Design: Agência Mocho