Maria solta um último grito, de parcas forças. Maria silêncio. Maria na cama.
Pedro grita.
Quem grita anuncia vida. Silêncio é coisa de quem parte.
Pedro sem mãe. Sem pai. Sem chão.
Pedro sem mãe. Sem pai. Sem chão.
Dão de comer a Pedro. Ele mama. Não sabe por que mama. Quer
viver. Espanta a morte com o grito. Vive porque tem medo.
Todo ele cresce. Tudo nele parece maior a cada dia. Cresce
de teimoso.
Pedro é bom de bola. Pedro é bom de escola. Pedro é bom.
Pedro cheio de sonhos. Mesmo que a Pedro não tenha sido ensinado
sonhar.
Sonha, Pedro.
Sabe que é difícil realizar.
Quebra o muro, Pedro. É preciso atravessar.
Sonha, Pedro.
Sabe que é difícil realizar.
Quebra o muro, Pedro. É preciso atravessar.
Dribla a bola. Dribla a vida. Pedro é bom de bola. Pedro não
está na escola. Foge pra não te pegar. Dribla o tempo. Só não dribla a
história. Pedro é bom?
“Bandido bom, é bandido morto”. Pedro, preto, bandido? Morre,
Pedro.
Vive, Pedro.
- Quero viver. Vivo pra
seguir sonhando.
Sonha mais que vive. Nada na escuridão. Alcança a borda pra não se afogar.
Sonha mais que vive. Nada na escuridão. Alcança a borda pra não se afogar.
Vive, Pedro. Sobrevive.
- Deixem-me viver!
O homem de farda não gosta de Pedro. Não gosta de preto.
Pedro, preto, pobre, bandido?
Pedro não sabe viver. Só aprendeu a sonhar.
Deixa de sonho, Pedro. Isso vai te matar.
A bola que rola, Pedro sabe driblar. Olha o homem de farda,
Pedro. Ele vai te matar.
Pedro é preto. É pobre.
Bandido? Bandido.
Os homens vão te julgar. Não adianta, Pedro. Esse mundo é seu inimigo.
Os homens vão te julgar. Não adianta, Pedro. Esse mundo é seu inimigo.
Então corre, Pedro. Corre que o mundo vem aí e passa por cima.
Dribla a vida pra sobreviver. Dobra a esquina na contra-mão.
"Pega ladrão!"
"Pega ladrão!"
Corre e pá.
Peito quente. Sangue escorrendo.
Pedro silêncio. Pedro no chão.No Brasil, todos os anos, cerca de 30 mil jovens são assassinados. Desses, 77% são negros. Isso não é uma coincidência ou vitimização, é uma política de Estado.
Lindo, emocionante...
ResponderExcluirÉ muito triste também. Infelizmente é o dia-a-dia. Demos sorte de estar aqui ainda.
ExcluirSeco, direto e todo poema. Todo molhado de sangue, o texto. E lágrima.
ResponderExcluirOrgulho de vc, Ernesto.
Muito emocionante e mais uma vez você consegue tocar os nossos corações de uma forma triste, porém, nos identificamos tanto pelo simples fato de infelizmente vivenciarmos esta realidade. Parabéns!
ResponderExcluirTriste realidade!
ResponderExcluirMaravilhoso e emocionado texto. Viva quem sente! Sente quem vive...
ResponderExcluirMaravilhoso e emocionado texto. Viva quem sente! Sente quem vive...
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMaravilhoso e emocionado texto. Viva quem sente! Sente quem vive...
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEmocionante, triste, e se continuarmos do jeito que está, seu texto será atemporal.
ResponderExcluirTriste e baseado numa realidade que me inquieta cada dia mais. Estamos vivendo uma época de ódio, de intolerâncias. A humanidade não evolui, apesar de toda tecnologia, estamos vivendo períodos difíceis, de ódios, intolerâncias e preconceitos, alguns desde sempre, mas ultimamente ódios ferrenhos seja por opção sexual, raça, política, o que for. Um retrocesso sem precedentes! Falta amor no mundo, muito amor, compreensão, humildade, compaixão, falta sentimento!
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