As grades das senzalas foram abertas há 127 anos. Os senhores de engenho ainda consideram que estamos lá dentro e nos tratam como se tudo fosse igual.
Sou filho dos sobreviventes que atravessaram o Atlântico até aqui em porões fétidos. Sou filho de quem apanhou, de quem teve que fugir para não morrer. Sou filho de quem foi jogado à própria sorte após quatro séculos de servidão, na miséria, analfabetos, sem teto, sem terra. Somos sobreviventes porque não há o que possa nos matar. Mesmo na morte carnal permanecemos vivos por aí, pairando em cada canto para lembrar-lhes que o negro é a origem, a luz e a força que gerou isso que hoje chamamos de ser humano.
Fomos trazidos para o país de mentalidade mais atrasada no mundo. Último local a por fim ao regime escravocrata. Último. Apenas 127 anos se passaram. O Brasil é racista pois não admite que acabou.
Os insultos à Taís Araújo são os mesmos de todos os dias e ainda me causam revolta. O que atingiu Taís, atinge João, Sebastião, Maria, Priscila, Dandara, Francisca, Marcelo, todos negros. Taís Araújo é a representação de que precisamos permanecer firmes nesta luta. Agradeço e admiro a coragem dela em levantar a bandeira e não esmorecer.
Quem se cala dá voz aos racistas.
A senzala não é minha casa, você queira ou não. Não foi e nunca será.
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