domingo, 14 de março de 2010

EVOLUÇÃO


Não adianta o auto-flagelo, culpar-se, insultar-se, pois os erros não serão corrigidos com medidas drásticas praticadas contra si. É certo que por ignorância ou esquecimento vamos retornando aos erros do passado, fazendo tudo de novo, como se o mundo girasse em um ciclo vicioso e sem a possibilidade de mudança de rota ou ritmo. Me pergunto: por que tudo volta a se repetir? E o mundo perguntaria a mim: e por que você repete as mesmas escolhas? E o pior é que sei que anteriormente tive atitudes erradas e tomei os caminhos que talvez não fossem os melhores naquele determinado momento.

Saberíamos nós precisar até que ponto poderíamos ir, na intenção de evitar o erro? Talvez fosse o erro a pedra fundamental de nossas mais geniais idéias, pois de certa forma, todos os pensamentos perfeitamente conexos e ordenados, nos levam a caminhos previsíveis e enfadonhos. A estratégia da perfeição transforma a vida em um manancial de pressões sobre nós mesmos. Viramos reféns de uma sociedade que acredita na hipocrisia do eterno acerto.

Se permitir ao erro pode ser uma forma de mudar, pois imaginar a vida como algo simples poderia nos levar ao suicídio, diante do tédio pela falta de mistérios. A dúvida é o que nos impulsiona a sair da cama todos os dias. Tornar as coisas mais difíceis, complicadas, é uma auto defesa. Sem dificuldades a raça humana já estaria exterminada.

Talvez eu estivesse tentando mudar o mundo com as próprias mãos. E desta forma não percebia como as nuances da vida estavam transformando seus tons diante de mim. Minha vontade incontrolável de mudança fazia de mim um ser cego. E na verdade permanecia estático, sem destino, sem perspectivas. Repetindo os mesmos erros do passado eu ia me martirizando e xingando o mundo, como se ele fosse o culpado e este era eu. Meu coração batia lentamente, no ritmo fúnebre das marchas de novembro. Não saía do lugar, não buscava uma solução, um caminho alternativo. Ano após ano e sempre as lamúrias de um destino já traçado. Perdas de um ser sem valores guardados. Já derrotado antes da batalha. Sem armas, estratégias, força, confiança. Eu era a parte sobrevivente de um exército sem soldados. A luta interna para superar meus medos, minha preguiça, era o adversário mortal, que sempre me desafiava. Mas só há guerra quando os dois lados duelam. Mas ali tínhamos uma disputa desigual. Eu não procurava me defender. Fazia da inércia minha desculpa. Culpava o destino, que não me sorria. Era um coitado sem opções, queria acreditar.

Mas a vida muda na velocidade do nosso coração. E a surpresa por ainda percebê-lo batendo: lento, mas com força, fez de mim um homem confiante, certo de que nesta minha jornada certos obstáculos estão apenas no pensamento. E é ali onde reside o maior perigo. Nosso inimigo íntimo. O sangue agora corria por todo o corpo, como se o estivesse conhecendo naquele momento. Aqueles caminhos desconhecidos do meu corpo recebiam o calor do sangue antes parado, sem rota. Agora ele sabia o caminho de ida e volta para um coração trabalhador.

Tenho em mim todas as ferramentas para a transformação. Todos temos. O caminho que nos leva a essa descoberta é o que chamamos de experiência. Poder ser aquilo que nunca antes se imaginou traz frescor aos poros de uma pele talvez ressecada pelo tempo. Então faço de meu corpo um instrumento da rebeldia humana, capaz de romper as regras do imaginável, de fazer o pensamento voar, cabendo a mim apenas transgredir.

Quantas vidas seriam necessárias para que o ser humano evoluísse plenamente? Seria possível em algum momento compreender aquilo que de nós se espera? Por que caminho devemos seguir? Eu seguiria em dúvida eternamente? Que sentimento nos move para frente? O que nos satisfaz? Para todo questionamento: o silêncio. Para cada busca pela verdade: a luz.

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