quinta-feira, 17 de junho de 2010

ÁFRICA- PARTE 3



Como uma gota de tinta em papel branco, a África foi deixando suas marcas pelo mundo. O êxodo faz parte não da cultura, mas da necessidade de povos que sofrem o desastre da globalização.

Primeiro alguns foram retirados de suas terras, em uma imigração forçada. Pedaços africanos amputados foram espalhados pelos países colonizadores. A fácil identificação através da cor da pele, fez com que a marginalização não estivesse necessariamente associada à essência pobre ou cruel, mas sim ao que estava ao alcance dos olhos. A pele negra sempre esteve aliada ao sujo, desprezível, baixo, ignorante, repugnante, primitivo. Todos adjetivos que foram se perpetuando pelo imaginário coletivo. Segundo Goebbels uma verdade tantas vezes contada, acaba virando verdade. E aí se reforçou o instinto racista.

Em uma Europa multifacetada vemos a marca africana impregnada em cada canto. Negros franceses, ingleses, holandeses, de todas as nacionalidades. Há também os africanos marroquinos, argelinos, que são de identificação mais complicada. Essa invasão assusta o continente. Temem perder a identidade européia, querem manter a pureza de Hitler.

O que dizer de uma França que recebe por ano um número três vezes maior de imigrantes do que de nascimentos em seu território? O presidente Sarkozy(de origem húngara) quer expulsar do país o maior número de estrangeiros ilegais possível. Talvez não saiba que esses árabes, africanos, asiáticos ou até mesmo do leste europeu, são parte fundamental da mão-de-obra francesa. Um dia sem esses imigrantes levaria o país à bancarrota.

Só que o problema é muito mais profundo. Assim como estamos acostumados no Rio de Janeiro, as abordagens policiais na caça aos ilegais(Sans Papiers) são feitas através da identificação visual. Isto é, negros em sua maioria, são os escolhidos para passarem pela inspeção policial atrás de documentos que provem ou não a ilegalidade destas pessoas. Onde está a igualdade, a fraternidade, a liberdade?

Os europeus tornaram a África um local muito difícil para se viver, e hoje, que os negros por necessidade, tem de sair de seus países em busca de algo melhor, não encontram nos seus algozes algum alento. Porém esta invasão ao contrário se tornou irreversível. A Europa pintou em sangue a África. E agora em negro, os africanos vão espalhando sua cor, sua identidade, sua vida.

Em busca da liberdade prometida, esses negros vão vivendo então, presos nos guetos e subúrbios do primeiro mundo. São eles os pedreiros, faxineiros, seguranças, prostitutas... Humanos, porém marginais. Lembrados no esporte, na música, dificilmente na literatura, pois se a eles lhes for concedido o poder da palavra, transbordarão rios de prantos e verdades que o mundo não está preparado para receber. O silêncio dos africanos é como uma mina terrestre à espera de sua vítima. Possui um poder devastador, só precisa ser acionada.

O pensamento e o direito à palavra salvarão os homens marginalizados do desastre da segregação. Por alguns instantes podem fechar os olhos para não ver, porém, hoje, o mundo é recheado de África. Cada ponto escuro ao nosso redor significa luz. A luz da alma negra.

sábado, 12 de junho de 2010

ÁFRICA- PARTE 2


É tudo muito recente. As imagens passam repetidamente em todos os canais de TV do mundo. Pessoas olham estáticas, abismadas com a alegria de um povo que sofre tanto e ainda canta e dança. Celebra. Assim é a África. O pesar pode vir através da música em pranto, nunca em silêncio. E a celebração vem embalada ao som do coração, que bate tão forte, que se faz ouvir por todos os cantos.

Não só ouvidos ficam abismados. Olhos não crêem no que vêem. Tantas cores misturadas. Seria fora de moda aos olhares italianos, talvez. Porém naquele contexto combinam tanto, fazem todo sentido de existir. O que vestem diz muito sobre o que são. Um povo que carrega a alegria nas cores de suas vestimentas.

A pele também sente a diferença. No toque. No afago. No abraço apertado e amistoso. Não há receio de tocar o outro. Esta é uma forma comum de dar boas vindas. E talvez aí esteja o maior espanto. Nas terras acima do Equador, o contato é visto com ressalvas. “Por que temer?” Dizem eles. São todos irmãos, independente de cor ou credo.

Provavelmente cheiros e gostos causem igual estranhamento. Não o sei. Porém depois de tantos anos de abandono e indiferença, é com perplexidade que o mundo visita a África. Com a mesma perplexidade que portugueses, franceses, ingleses, holandeses, espanhóis e tantos outros tiveram há mais de 500 anos atrás. Quem é esse povo? Que ameaça podem ser? O que pensam? Como vivem? Incrível como depois de séculos as perguntas continuam sendo as mesmas. Depois de tanto tempo ninguém teve a perspicácias de decifrar um povo tão simples, tão humano em sua essência. Perderam valiosos ensinamentos, com certeza.

Talvez agora, possamos reescrever os livros de História. Preenchendo lacunas antes incompletas. Escreverão que na terra onde nasceu o Homem, existem pessoas que pensam, sentem, falam, se expressam e não apenas irão falar de primitivos em busca de uma salvação que nunca virá.

O que me entristece é perceber que o povo africano precisa se auto-identificar para que a partir daí, cresçam. Isso é extremamente complicado. Criar identidade para buscar caminhos é tão difícil quanto gerar a paz no mundo. Porém não impossível. O porquê de tanta demora em encontrar tal resposta se deu por conta de anos de cegueira e surdez impostos pelo dito 1° mundo. Hoje, de olhos abertos e com a voz solta, este povo canta e causa espanto. O que antes era apenas lágrima silenciosa, hoje se tornou grito de alegria. E o povo que esteve escondido em seu gueto, agora pode mostrar seu sorriso, seu rosto, sua alma.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

ÁFRICA- PARTE 1


Uma pergunta martela a cabeça: o que é a África? Ou mudando o português: o que “são” a África?

Diante de uma questão tão complexa vou buscando resposta para um enigma que talvez a Humanidade ainda leve muitos anos para descobrir. Olho para mim e vejo muito dela, ao mesmo tempo em que tão distante, não posso dizer o quanto dela possuo em mim.

São muitas Áfricas para procurar, estudar. Tento entender, tento saber mais sobre mim mesmo.

É errado falar do continente africano como uma coisa só. São 53 países, quase 1 bilhão de habitantes e milhares de etnias, línguas e dialetos. Diversos tipos de colonizações perversas, brigas étnicas, guerras, guerrilhas, ditaduras. Tudo isso no lugar onde nasceu o Homem.

A imagem da pobreza é a primeira coisa que vem à cabeça quando penso na África. A imagem de pessoas subnutridas corre o mundo e leva o que há de pior aos 4 cantos. É muito pouco, quase nada, é injusto com culturas tão ricas. Porém alarmante.

Não podemos cair no erro de pensar que lá só existem pobres coitados em busca de auxílio, mas a situação atual se deve a séculos de exploração européia, que não por acaso, são a origem da maioria das entidades de ajuda humanitária que se espalham por todo continente. Algo como um pedido de desculpas muito atrasado.

Uma das principais estratégias utilizadas era inflamar o conflito entre etnias para enfraquecê-las e subjugá-las. Os conflitos que vemos hoje, são reflexos disso. Mas não há como tentar solucionar o problema africano pensando nele como uma coisa só. Cada país possui sua particularidade e buscar a união entre povos que se odeiam(sem motivos) por séculos é uma atitude inocente.

O Mundial de futebol na África do Sul é uma oportunidade para que os olhos do mundo enxerguem um pouco das súplicas africanas. A atenção pode gerar bons frutos. Principalmente no país que gerou Nelson Mandela, o homem que passou 27 anos na prisão, para depois assumir a presidência da nação e acabar com o Apartheid.

É ilusório pensar que o Apartheid acabou, mas passos foram dados.

Vou sendo levado de um assunto a outro e percebo o quanto fico motivado a discutir. Preciso de muito ainda. Preciso de mais. Preciso me entender. Entender a mim, à África, o Brasil. Por um elo forte, tudo está ligado. Faço parte dele. Esta é minha diáspora às avessas. O sangue do sofrimento africano corre por minhas veias, mas nelas também trago a energia e alegria que criaram o mundo.

domingo, 6 de junho de 2010

BOLETIM AFROBRASILEIRO


Neste ano de Copa do Mundo e eleições, o Boletim Afrocarioca não poderia se abster. Esses assuntos que tomam conta da vida do brasileiro de 4 em 4 anos estarão aqui presentes. Desta forma, nos tornamos o "Boletim Afrobrasileiro".
Na próxima sexta(11 de junho) a Copa do Mundo da África do Sul dará seu pontapé inicial. E aqui no nosso blog teremos a oportunidade de debatermos diversos assuntos em relação a futebol, geo-política e diversão. Ánalise dos jogos, dos adversários, assuntos africanos, tudo através da liguagem que estamos acostumados aqui no Afrocarioca.
Espero poder contar com a colaboração e comentários de vocês.
Abraço,

Ernesto Xavier
Postagens mais recentes Postagens mais antigas Página inicial

Copyright © Boletim Afrocarioca | Design: Agência Mocho