quinta-feira, 5 de novembro de 2015

DESAJUSTADO



Você passa a infância ouvindo que seu cabelo é feio,

Não vê ninguém parecido nos lugares de destaque,

Quando vê, é bandido,

Ou jogador de futebol, mas você não joga bola,

Ou pagodeiro, mas não sabe sambar.

Não é escolhido rei do baile da escola.

Ganha prêmio de simpatia. Sabe que é consolação. Você se esforçou para ser engraçado e simpático para ter espaço e chamar atenção.

Você briga com o próprio cabelo. Alisa, corta curto.

Você ressalta seus traços mais “finos” para se aproximar da paquita (sempre) loira, do herói do filme, do apresentador de tv, do presidente, galã de comercial de margarina, de todas as referências que te apresentaram como boas.

Depois disso tudo, cresce e diz a todos que tem orgulho de ser quem é.

A chave vira, pois algo dentro de você não encaixa.

Se aceitar é mais do que um ato de coragem, é uma postura política.


127 ANOS




As grades das senzalas foram abertas há 127 anos. Os senhores de engenho ainda consideram que estamos lá dentro e nos tratam como se tudo fosse igual. 

Sou filho dos sobreviventes que atravessaram o Atlântico até aqui em porões fétidos. Sou filho de quem apanhou, de quem teve que fugir para não morrer. Sou filho de quem foi jogado à própria sorte após quatro séculos de servidão, na miséria, analfabetos, sem teto, sem terra. Somos sobreviventes porque não há o que possa nos matar. Mesmo na morte carnal permanecemos vivos por aí, pairando em cada canto para lembrar-lhes que o negro é a origem, a luz e a força que gerou isso que hoje chamamos de ser humano. 

Fomos trazidos para o país de mentalidade mais atrasada no mundo. Último local a por fim ao regime escravocrata. Último. Apenas 127 anos se passaram. O Brasil é racista pois não admite que acabou.
Os insultos à Taís Araújo são os mesmos de todos os dias e ainda me causam revolta. O que atingiu Taís, atinge João, Sebastião, Maria, Priscila, Dandara, Francisca, Marcelo, todos negros. Taís Araújo é a representação de que precisamos permanecer firmes nesta luta. Agradeço e admiro a coragem dela em levantar a bandeira e não esmorecer. 


Quem se cala dá voz aos racistas. 


A senzala não é minha casa, você queira ou não. Não foi e nunca será.

JOUT JOUT





Caros representantes do "Orgulho de ser hétero", vocês não me representam, ok?
A tentativa ridícula de retirar páginas feministas do ar é uma atitude covarde. Covarde como o assédio que vocês fazem diariamente a mulheres e meninas todos os dias. Covarde como se esconder na tela do notebook para difamar e ameaçar. Covarde como seus representantes políticos, que se valem da maioria masculina na Câmara para aprovar pautas contra direitos adquiridos das mulheres. 
Para você que se acha tão poderoso por ter nascido com um órgão genital masculino entre as pernas e por isso crê ser superior, apenas uma informação:
Você NÃO é homem. Nem ser humano posso considerar. 
O que é seu está guardado.

JUSTIÇA PRA QUEM?




Um menino de 10 anos morreu no Complexo do Alemão.

O atirador, um policial, estava perto da vítima.

A criança estava de costas.

Os envolvidos foram inocentados. Legítima defesa, dizem.

Esta é a resposta da justiça. Justiça para quem?

A família chora.


Eduardo não vai chorar mais.
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