quarta-feira, 7 de julho de 2010

CRIMES E HISTÓRIAS


Crimes de diferentes tipos ocorrem a todo momento. Atingem as classes baixa e alta, em qualquer canto. O que diferencia a repercussão de cada caso normalmente está ligado à capacidade do autor em driblar as investigações. Um crime por mais cruel que seja, se é desvendado com facilidade, não desperta o maior interesse da sociedade. Mesmo que o acusado seja uma pessoa famosa. É claro que juntando todos os agravantes em apenas um caso(celebridade, crueldade do caso e mistério), fazem um crime se tornar um fenômeno. Porém o que move o ser humano são as histórias. São elas que fazem milhões de pessoas sentarem em frente à TV para assistir novelas diariamente.

Não sei como isto move outros povos, porém no Brasil, além da paixão pelas histórias fictícias, multiplica-se este interesse quando algo às vezes impensado para um roteiro, aparece diante das telas ou páginas de jornais como parte do mundo real. Daí surgiu o fenômeno BBB. Ver pessoas sem roteiro, vivendo e sendo observadas 24hrs por dia. Sofrendo. Rindo. Amando. Brigando. Lutando. E principalmente: se superando.

No entanto, nada atrai mais a atenção do que a morte. É difícil compreender as motivações para tal. A grande maioria das pessoas não consegue se imaginar em um momento de fúria tamanho, que permita tal atitude. E a raiva que surge por pensar no sofrimento da vítima motiva revoltas de toda parte. Até onde pode ir o ser humano? Do que somos capazes?

Então voltamos à questão do enredo. A possibilidade de pagar bons advogados e subornar testemunhas faz com que a dificuldade de se chegar a verdade dos fatos aumente. Cada passo dado pela investigação é acompanhado com ardor pelos espectadores. E aí surge a novela da vida real. A espera por novos capítulos. A torcida pelo mocinho e raiva pelo bandido. Diferente das novelas, há a possibilidade de questionar, alcançar um objetivo em comum. Surge a esperança de se fazer a justiça que falta em nossas vidas. Sonhamos uma vida com sentido. Pensamos em dias menos dolorosos.

O tempo passa. As provas aparecem. Vem o julgamento. Chegam à sentença. E como uma novela que alcança seu último capítulo, no dia seguinte é esquecida. Já queremos uma nova história para nos motivar. Percebo que o homem não pensa em justiça. Ele quer uma história que o mova. E assim somos desde crianças, à espera dos contos de fadas, dos desenhos animados. Queremos histórias que não sejam as nossas, pois sentir a realidade do que somos é mais doloroso do que olhar o sofrimento alheio.


Imagem: Guernica. PICASSO, Pablo.


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