Pela janela posso assistir ao balé das gotas espessas da chuva que caem e se movimentam ao bel prazer do vento. Assim como elas, também vou sendo jogado de um lado para o outro sem poder decidir onde ficarei. É claro que possuo força para mudar o curso, mas a correnteza às vezes é mais forte do que podemos suportar.
Tive que sair pelas ruas em meio ao vento, a chuva, caminhando com os pés no mato molhado. Nada disso me incomodou. Fui pensando na vida. E percebi que tenho muito mais pensado do que feito algo por ela. Vivo em tempos de cólera, como no livro de Garcia Márquez. Tempos difíceis de se entender, de aceitar. Não sou eu, mas o mundo que está em desatino, sendo sarcástico, cáustico com seus moradores.
O pensamento viaja para bem longe, onde os problemas que carrego talvez não possam alcançar. Tenho o corpo leve e liberto de qualquer influência negativa que possa atingi-lo.
“Muitos anos depois, defronte ao pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía teria lembrado daquela remota tarde em que seu pai o levara para conhecer o gelo." Assim como Aureliano Buendía busco algo de bom na lembrança que me faça esquecer a realidade diante dos olhos.
Sinto-me cansado. Durmo para poder sonhar. Sonho para me refugiar em lugares onde nunca estive. Minha alma é livre. Dá voltas no mundo
-Calma. Você ainda vai comigo para tantos lugares.
-Mas aqui tem sido tão chato.
-Eu sei. Mesmo aqui, estou te acompanhando sempre.
-Então porque não me tira dessa?
-Por que ainda não é a hora.
Posso tomar a liberdade de ser Gregor Samsa?, que “despertou uma manhã na sua cama de sonhos inquietos e viu-se metamorfoseado num monstruoso inseto". Não serei reconhecido e não me reconhecerei. Vou voar. Vou subir. Ver a Terra com outros olhos, sem a responsabilidade de responder as perguntas. Questionamentos meus. Respostas que não sei dar, vida que não sei explicar, sentido sem direção que não sei achar.
estamos caminhando conforme os fatos vão acontecendo diante de nós. Não tenho planos vou tentando construir um cronograma q faça sentido, trabalho, quer dizer, compareço pq é essa minha obrigação, mas diferente de vc, eu não sonho. Fica difícil fugir da realidade. Cada um com a própria sina.
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