quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

FIO CONDUTOR


Sigo procurando o fio condutor que me trouxe até aqui. Pode ser que ele não exista e que eu tenha caído de pára-quedas nesta fase da vida. Uma fase de resgates, não de nostalgia. Precisava refazer caminhos, terminar estradas, repensar os limites do meu território, ou então me dar asas e aprender a viver sem limites. Descobri o motivo da busca: tinha voltado a estudar. Isso me trouxe sensações e lembranças tão fortes.

Quando me sinto ultrapassado, estagnado, sem conseguir dar o próximo passo sozinho, me vem a necessidade de estudar. Optei pelo francês. Gosto de línguas novas, pois parecem me levar à lugares que nunca estive e poder sonhar em conhecê-los um dia. E foi assim que voltei a ter frio na barriga antes de uma prova, a rezar pela hora do intervalo, conversar com amigos de classe, me sentir um ignorante vendo a luz no fim do túnel.

Hoje senti, mesmo que em pensamento, o cheiro do biscoito recheado de morango que eu levava para lanchar na infância. Nunca mais encontrei um com aquele cheiro, sabor. Rezávamos antes de comer, uma formalidade para aquelas crianças ávidas por comida e diversão.

Acordar cedo, lutar contra a cama e depois ser vencido por uma voz oculta que me dizia para ser responsável e estudar o máximo que pudesse. Por 4 semanas, 5 dias na semana, 3 horas por dia, foi assim. E como foi bom! Nada supera o descobrimento do novo. Um mundo que se abre em forma de palavras, letras, sons. Eu podia novamente me sentir um pensante, alguém que fazia parte desta dádiva que se chama conhecimento.

Busquei nas gavetas, fotos daquele passado. Fazíamos parte de um mundo particular. Tínhamos nossas regras, gírias, piadas, trejeitos próprios. Éramos não só uma turma, mas uma nação. Naqueles registros vi nossos sorrisos infantis, cheios de esperança. Tínhamos um futuro brilhante pela frente. Ainda com menos responsabilidades, podíamos jurar que nada destruiria aqueles laços. Mas o tempo foi mostrando que aos poucos e naturalmente, outros laços foram se formando e muito daqueles foram se perdendo. Coisa normal da vida. Vamos indo para direções diferentes. Alguns se reencontram pela estrada, retomam o mesmo curso, mas já não somos mais os mesmos. Somos diferentes, outros praticamente. Aquele passado deixado lá trás costuma ser lembrado com mais romantismo. Eliminamos os momentos ruins, fazemos do passado um lugar mais bonito para se viver. Prefiro o hoje, mas não tiro o mérito do que passou. O tempo é amigo daqueles que sabem olhar pra frente sem esquecer o caminho feito para chegar até ali. Por isso ainda procuro o fio que me trouxe até aqui. Quero ser ajudado e não tragado pelo tempo.

Je suis très content maintenant! J’aime ma vie! À demain.

Imagem: RENOIR, Pierre-Auguste

Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

0 comentários:

Postar um comentário

Copyright © Boletim Afrocarioca | Design: Agência Mocho