sexta-feira, 23 de outubro de 2015

DESPEDIDAS




Às vezes nos despedimos para sempre de alguém que continuaremos vendo. O adeus ocorre sem palavras em um abraço que talvez nunca será lembrado, em uma tarde de outono na estação do metrô. Este não será o adeus contado pelo casal. Na história ficará marcada a noite de 2 meses depois em que ela o avisou por SMS que tinha deixado as coisas dele na portaria do prédio. Entre tulipas de chopp será contado e recontado. Assim será até quando uma estudante de cinema da PUC, com jeito de menina parisiense o levar a sonhar novamente. O processo se reiniciará até que o porteiro de um outro prédio venha a ser o portador das lembranças de uma outra acabada e confusa história de amor.
O homem se separa e continua encolhido em um canto da cama. Sem que ele saiba, seus braços a procuram na madrugada vazia. Em vão.

Havia amor no riso, assim como havia pesar no beijo. Aquele que seria o último, que faria da despedida um hiato na existência, pois amores deixam vazios que depois são preenchidos com lembranças a serem contadas.

O cheiro dela permanecerá e quando caminhando distraidamente pela Ataulfo de Paiva ele cruzar com uma mulher de igual perfume, terá por ela uma atração repentina que se dissipará rapidamente junto com o aroma que se perde sem deixar rastro.

Na caixa deixada na portaria poucos objetos: uma toalha, um barbeador elétrico, duas cuecas, uma bermuda, um jeans, três camisas, um par de havaianas, um Ray Ban e um porta-retrato com a foto da primeira viagem que fizeram juntos, para Búzios. O que restou da relação cabia em uma caixa que um dia trouxe um aparelho de DVD novo. Ele que foi comprado pelos dois para preencher as noites de chuva no apartamento, com pizza e refrigerante. O aparelho está esquecido. Perdeu o emprego para o Blu Ray.

Não costumamos perceber as despedidas. Quando se diz “adeus” é porque o fim já aconteceu há muito tempo. O momento derradeiro de verdade se faz no último beijo com resquícios de paixão. Por que não paramos por aí? Seguimos...

A mulher certo dia o viu sair do apartamento e teve certeza de que seu namorado nunca mais voltaria. O homem que adentrara dez minutos depois já não era mais o mesmo, era outro com quem ela ainda transaria mais algumas vezes, em um sexo sem sentido na tentativa de resgatá-lo, de fazer o namorado novamente entrar pela porta do apartamento. Já não seria mais possível. Ele tinha ido sem olhar para trás e dizer tchau.


Haverá pesar na despedida. A dor sentida não será mera formalidade de luto e sim a amputação de um pedaço de si. Algo que por um tempo julgou ser imprescindível. E era. Estar ao lado não quer dizer estar junto. Assim como eles, são tantos casais, que de mãos dadas estão mais separados do que qualquer distância poderia fazê-los.
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