O homem em seus devaneios quase matemáticos calcula os
passos, cada palavra a ser dita, respostas e variáveis para o diálogo, traça a
parábola que o levará até ela, se diminui, depois bebe e se multiplica de forma
exagerada, na tentativa da coragem inalcançável na sobriedade.
Encostado no balcão ele fita a presa com um olhar
discreto. Apenas para as análises preliminares. Sente algo diferente, como se
pudesse imaginar claramente que futuro teriam juntos: a cor da casa e do carro,
o nome dos filhos, a cidade preferida nas férias, a música que tocaria na
entrada dela no casamento, sua comida favorita e quem sabe até qual filme do
Woody Allen ela gosta mais.
Suposições que o homem matemático faz enquanto
calcula suas possibilidades, probabilidades.
O homem matemático é capaz de se apaixonar várias
vezes ao dia. Seu prazer não está na conquista e sim nas fantasias criadas em
alguém que vê em um vagão do metrô, numa sessão de cinema francês à tarde em
Botafogo ou em um chopp com os amigos em Santa Teresa. Não há hora ou lugar.
São trocas de olhares que ele vai colecionando em sua estante emocional de
relacionamentos nunca consumados. Juras de amor eterno que não foram ditas,
rompantes de ciúme que jamais chamarão a atenção dos transeuntes, demonstrações
de afeto que não serão invejadas pelas amigas dela, pois nunca aconteceram.
A vida do homem matemático(ou quase) é bem agitada.
Ele não terá histórias reais para contar na mesa do bar, porém dirá com
profundo pesar que deixou a mulher de seus sonhos escapar num ponto de ônibus,
quando ela ao entrar em seu coletivo olhou sorrateiramente para trás, cruzou
seus olhos com os dele e fez daquele segundo em silêncio a mais bela poesia que
ele já ouvira. Ela partiu Barata Ribeiro abaixo enquanto ele se postava
impávido vendo a perfeita mãe para seus filhos partir sem deixar um número ou
contato do facebook. Talvez se o tivesse, descobriria que eles tinham em comum
uma amiga que estudou com ele no primário do Andrews e também um fortão que fez
natação com ele no Fluminense há 4 anos passados. Fortão que costumeiramente
comentava as fotos dela. Seria alguma espécie de ficante sazonal? O homem
matemático não mensurava o tamanho da decepção que teria com uma confirmação
dessas. Resolveu nem pensar. E como poderia? Não tinham trocado nem um “oi”.
Os amigos do homem matemático gostam dele assim
mesmo. Já tentaram mostrar para ele que
os relacionamentos são mais humanos ou biológicos do que exatos. Mas ele
insistia em dizer que preferia encontrar o valor do seu “x” dentre tantas
variáveis ao invés de ser enganado por prosopopéias ou versos alexandrinos.
Vivia o rigor de suas fórmulas, sabia projetar o resultado de cada
relacionamento dos amigos, embora não tivesse feito o mesmo em sua vida.
O tempo também passará para o homem matemático. Assim
talvez veja que a direção a seguir não será uma questão de vetores e que no
amor, para multiplicar é preciso em primeiro lugar dividir.
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