domingo, 18 de outubro de 2015

O HOMEM MATEMÁTICO



O homem em seus devaneios quase matemáticos calcula os passos, cada palavra a ser dita, respostas e variáveis para o diálogo, traça a parábola que o levará até ela, se diminui, depois bebe e se multiplica de forma exagerada, na tentativa da coragem inalcançável na sobriedade.

Encostado no balcão ele fita a presa com um olhar discreto. Apenas para as análises preliminares. Sente algo diferente, como se pudesse imaginar claramente que futuro teriam juntos: a cor da casa e do carro, o nome dos filhos, a cidade preferida nas férias, a música que tocaria na entrada dela no casamento, sua comida favorita e quem sabe até qual filme do Woody Allen ela gosta mais. 

Suposições que o homem matemático faz enquanto calcula suas possibilidades, probabilidades.
O homem matemático é capaz de se apaixonar várias vezes ao dia. Seu prazer não está na conquista e sim nas fantasias criadas em alguém que vê em um vagão do metrô, numa sessão de cinema francês à tarde em Botafogo ou em um chopp com os amigos em Santa Teresa. Não há hora ou lugar. São trocas de olhares que ele vai colecionando em sua estante emocional de relacionamentos nunca consumados. Juras de amor eterno que não foram ditas, rompantes de ciúme que jamais chamarão a atenção dos transeuntes, demonstrações de afeto que não serão invejadas pelas amigas dela, pois nunca aconteceram.

A vida do homem matemático(ou quase) é bem agitada. Ele não terá histórias reais para contar na mesa do bar, porém dirá com profundo pesar que deixou a mulher de seus sonhos escapar num ponto de ônibus, quando ela ao entrar em seu coletivo olhou sorrateiramente para trás, cruzou seus olhos com os dele e fez daquele segundo em silêncio a mais bela poesia que ele já ouvira. Ela partiu Barata Ribeiro abaixo enquanto ele se postava impávido vendo a perfeita mãe para seus filhos partir sem deixar um número ou contato do facebook. Talvez se o tivesse, descobriria que eles tinham em comum uma amiga que estudou com ele no primário do Andrews e também um fortão que fez natação com ele no Fluminense há 4 anos passados. Fortão que costumeiramente comentava as fotos dela. Seria alguma espécie de ficante sazonal? O homem matemático não mensurava o tamanho da decepção que teria com uma confirmação dessas. Resolveu nem pensar. E como poderia? Não tinham trocado nem um “oi”.

Os amigos do homem matemático gostam dele assim mesmo.  Já tentaram mostrar para ele que os relacionamentos são mais humanos ou biológicos do que exatos. Mas ele insistia em dizer que preferia encontrar o valor do seu “x” dentre tantas variáveis ao invés de ser enganado por prosopopéias ou versos alexandrinos. Vivia o rigor de suas fórmulas, sabia projetar o resultado de cada relacionamento dos amigos, embora não tivesse feito o mesmo em sua vida.


O tempo também passará para o homem matemático. Assim talvez veja que a direção a seguir não será uma questão de vetores e que no amor, para multiplicar é preciso em primeiro lugar dividir. 
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